Você pode nem perceber, mas grande parte do seu dia já está no automático, segundo estudo da Universidade de Duke, nos Estados Unidos. Na prática, isso quer dizer que sua rotina está repleta de atividades feitas “sem pensar”.
Mas o que parece uma boa notícia pode ser um obstáculo na construção de novos comportamentos – afinal, parte do processo de criar hábitos é mudar algo na sua rotina, e é mais difícil alterar aquilo que opera de forma autônoma. Se a tarefa já não é tão simples individualmente, como criar hábitos financeiros em família? E o que isso tem a ver com dinheiro?
O que os hábitos têm a ver com dinheiro?
Segundo os pesquisadores da Universidade de Duke, dos Estados Unidos, David Neal, Wendy Wood e Jeffrey Quinn, um hábito é tudo aquilo que não apenas é feito repetidamente, mas de forma quase inconsciente. “São respostas executadas com controle consciente mínimo”, afirmaram em estudo.
É neste ponto que as pessoas costumam confundir hábitos com rotina – e essa confusão é um dos obstáculos para a construção dessas respostas automáticas, segundo Nir Eyal, escritor e professor da Universidade Stanford, nos Estados Unidos.
Ele explica no livro “Como dominar a sua atenção e assumir o controle da sua vida” que um hábito é um tipo de rotina, mas nem toda rotina é um hábito. “Enquanto a rotina pode ser algo desconfortável de fazer, exige esforço e pode ser facilmente deixada de lado, um hábito parece desconfortável quando não o praticamos”, diz.
Por que criar hábitos financeiros em família?
Porque esse trabalho em grupo não apenas facilita o controle financeiro dos pais como incentiva as crianças a desenvolverem hábitos que vão beneficiá-las no futuro, segundo a planejadora financeira Viviane Ferreira.
“São os hábitos que fazem uma família ter as finanças equilibradas ou estar endividada. E fazer esse trabalho em grupo, incluindo as crianças, contribui não apenas para o presente, mas para o futuro delas, porque quanto mais cedo elas aprendem hábitos financeiros saudáveis, mais fácil será lidar com dinheiro na fase adulta”, explica.
Como criar hábitos financeiros em família?
O processo para criar um hábito em família tem muitas semelhanças com a dinâmica individual. A diferença é que, em grupo, é preciso fazer combinados e chegar a consensos – o que pode ser um complicador. Por outro lado, grupos tendem a se apoiar, tornando o processo mais fácil e até divertido.
Abaixo, confira como criar hábitos financeiros em família.
1. Identifique os hábitos individuais e em família que quer criar
O que você e sua família querem mudar? Gastar menos com pedidos no delivery? Investir mais para a viagem de férias? Não importa o comportamento, é importante que ele seja claro e específico. Além disso, vale aqui um tempo para analisar se o comportamento que quer criar pode ser mesmo um hábito. Isso porque aquilo que você quer mudar pode não ser o hábito que precisa desenvolver.
Por exemplo: gastar menos com delivery não é um hábito, mas a consequência do hábito de cozinhar em casa. Ou seja, o comportamento que você quer desenvolver é o de cozinhar em casa. O resultado é pedir menos no delivery.
2. Tenha claro o motivo da mudança
No processo de criação de hábitos, há uma fase chamada de ponto de inflexão – o momento em que determinado comportamento está entrando na rotina, mas, por algum motivo, ele é deixado de lado.
Por exemplo: você começa uma planilha para controlar o seu orçamento e insere informações nela diariamente. Depois de um tempo, passa a usá-la semanalmente, até que para de abri-la definitivamente. Esse é o ponto de inflexão. Somente um motivo claro e forte é capaz de fazer você não parar de abrir a planilha e, quando o fizer, voltar rapidamente para ela.
3. Mapeie a sua rotina atual e identifique se há algo que pode atrapalhar a criação desse novo hábito
Depois que a lista dos hábitos que a família quer desenvolver estiver pronta, é hora de fazer um raio-x da rotina atual do grupo e de cada pessoa. A ideia aqui é identificar se existem comportamentos ou situações que podem atrapalhar a construção desses novos comportamentos.
O objetivo desse raio-x não é eliminar os hábitos ruins (aqueles que prejudicam as finanças da sua família ou que caminham no sentido contrário aos comportamentos que quer criar). Afinal, esses detratores podem já estar no automático e, segundo um estudo do MIT (Massachusetts Institute of Technology), quebrar um hábito é tão difícil quanto criar um novo.
4. Crie recompensas
A criação de hábitos passa, basicamente, por três fases, concluiu Charles Duhigg, no livro “O Poder do Hábito”:
- O gatilho: aquilo que vai funcionar como um lembrete para o comportamento;
- A rotina: é a ação em si feita após o gatilho. Por exemplo: criar o cardápio da semana, ir ao supermercado e, por fim, cozinhar;
- E a recompensa: o que você ganha ao realizar a ação.
5. Repita, repita e repita
A ciência do comportamento é clara nesse sentido: não é possível criar um novo hábito sem repetição. Ou seja, não adianta apenas colocar o comportamento na rotina, é preciso repeti-lo até que ele se torne automático e que você e sua família sintam que perderam algo ao não fazê-lo.
Mas o processo não é linear, principalmente quando envolve crianças. Sim, em alguns dias, você não vai conseguir cozinhar, seja pelo cansaço ou por um imprevisto – é o ponto de inflexão. O importante não é focar na ação que não foi feita, mas voltar para ela o quanto antes. Reforçar os motivos que movem sua família em direção a esse hábito e até rever as recompensas ajudam no processo.
Criar hábitos financeiros em família pode ser desafiador, mas recompensador. Além de melhorar a saúde financeira do grupo, esses hábitos fortalecem laços, ensinam habilidades sociais e proporcionam um ambiente estável para todos.